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E-book Tayró: por nós e entre nós

Diálogos interculturais na (re)invenção da universidade
 
Autor:
João Beneilson Maia Gatinho

Área de conhecimento: Ciências Humanas

Idioma:
Português

Ano: 2025 - 1ª Edição

Número de páginas:
 71 páginas

Formato: Pdf

Tamanho do arquivo: 1,7 
MB

ISBN: 978-65-5321-022-6

DOI: 10.47538/AC-2025.28

Tayró

POR NÓS E ENTRE NÓS

DIÁLOGOS INTERCULTURAIS NA (RE)INVENÇÃO DA UNIVERSIDADE

     O presente livro nasce da crença de que a produção e a validação de saberes em contextos indígenas só podem ser compreendidas a partir de esforços acadêmicos que coloquem em diálogo os conhecimentos originários e as práticas universitárias. Neste volume, ancorando‑nos em resultados de projetos de produtividade acadêmica e de ações de extensão, procuramos dar voz efetiva aos povos indígenas dentro da universidade. Esses trabalhos empíricos adotam etnonarrativas nas línguas indígenas como abordagem metodológicas e estratégia de empoderamento desses sujeitos para revelar as tensões e potencialidades das práticas de ensino-aprendizagem em contextos interculturais.

     A obra é uma oportunidade para revisitarmos, à luz dos estudos decoloniais, os aportes de Mignolo (2004), Quijano (2010) e Walsh (2019), que denunciam a colonialidade do saber como estrutura epistemológica que hierarquiza e silencia epistemes não‑europeus. Os estudos sobre interculturalidade crítica desses pesquisadores, postulam que somente uma “interculturalidade como dispositivo político‑epistêmico” é capaz de desestabilizar as hierarquias do saber e promover diálogos horizontais entre saberes indígenas e não indígenas. Tal perspectiva nos convida a reconhecer as línguas, cosmologias e práticas pedagógicas indígenas não como meros objetos de estudo, mas como agentes centrais na (co)construção de mundos pluriversos.

     Propondo repensar trajetórias formativas que não apenas “solidarizem” saberes, mas que se reorganizem de modo a evitar a sobreposição eurocêntrica, contribuindo para a justiça epistêmica, o capítulo 1 - TAYRÓ - ALUNI-ELA: (Des)articulações epistemológicas em processos de formação de professores indígenas no Amazonas, aponta dois movimentos epistemológicos nos itinerários formativos de professores indígenas em contexto amazônico: a solidarização e a sobreposição.

     O capítulo 2 - “FALA PARENTE: Experiências acadêmicas de indígenas que acessam o ensino superior na UEA por meio da reserva de vagas- descreve as duas modalidades de políticas afirmativas de acesso ao ensino superior para indígenas (Licenciatura Intercultural e Vagas Suplementares) e analisa, via entrevistas semiestruturadas e etnonarrativas, os desafios de permanência desses sujeitos na universidade. Os deslocamentos geográfico e logístico das comunidades às sedes universitárias, a baixa proficiência em língua portuguesa como segunda língua, a ausência de ações para acompanhamento acadêmico e a consequente evasão estão entre os principais entraves apontados.

     O capítulo 3 - PARA ALÉM DA LÍNGUA: Posicionamento(s) das línguas indígenas nas cosmologias e modos de vida indígenas- inspirado na teoria ator-rede, proposta por Bruno Latour (2004) e nos estudos etnoecológicos, o capítulo discute como a(s) língua(s) indígena(s) atuam como agente(s) híbrido(s), participantes de redes que conectam humanos, espíritos, animais e elementos naturais. Utilizando exemplos de duas etnias do Estado do Amazonas, as análises propõem que a língua(gem) transcende a mera comunicação, configurando-se como prática de mundo, da mesma forma que rituais, cantos e silêncios configuram formas de “fala” que (co)constroem realidades plurais. Compreender a língua(gem) nessa perspectiva implica incorporar práticas orais ancestrais e envolver anciãos nas atividades escolares, redesenhando o currículo como espaço político‑cosmológico.

     O capítulo 4 - RE(EXISTIR) PELA LÍNGUA(GEM): Da colonialidade linguística à hierarquia silenciadora na universidade- partindo da análise discursiva de etnorrativas de estudantes indígenas, o capítulo evidencia como a imposição do português e a desvalorização da oralidade reforçam a colonialidade do saber na universidade. Evidencia também que as estruturas acadêmicas consideram as línguas indígenas apenas como objeto de estudo, promovendo a invisibilização das cosmovisões indígenas e silenciamento de seus modos de produção e validação de conhecimento. As discussões apontam a necessidade de se transformar a universidade em “território de re(existência)” e “diálogo cosmopolítico”, onde línguas indígenas sejam vivas, atuantes e centrais na produção acadêmica.

     As discussões propostas ao longo dos capítulos oferecem aos leitores pistas metodológicas e políticas para repensar a formação de professores, a elaboração de currículos interculturais e o desenhar de políticas de permanência que verdadeiramente valorizem os múltiplos saberes indígenas.

     Este livro, portanto, configura-se como um convite aberto — tanto a pesquisadores (as) indígenas quanto a não indígenas — para experienciarem e gestarem coletivamente a interculturalidade que Walsh propõe como uma práxis que valoriza a reciprocidade, a simetria e o cuidado epistemológico. Ao percorrer trajetórias de “solidarização” e “sobreposição” epistemológicas nos cursos de formação de professores indígenas, a obra aponta para a urgência de uma universidade que se reconheça como espaço de justiça epistêmica, capaz de articular saberes ancestrais e acadêmicos em redes dialógicas e transformadoras.

João Beneilson Maia Gatinho

 

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